A pauta do dia era: Estação João Felipe. Não bastava ir até a estação no centro da cidade. Tínhamos que pegar o trem e fazer algum trecho ida e volta.
As ruas do centro de Fortaleza estão cada vez mais cheias, o trânsito torna-se a cada dia mais caótico. Encontramos de tudo: poluição sonora, poluição visual, desrespeito e confusão de todo tipo. Mas, para quem diariamente se desloca de carro ou de ônibus pela cidade este caos já parece normal.
O trem em muitas cidades do mundo é uma alternativa mais barata, rápida e segura. Aqui no Brasil o transporte de trem não é muito utilizado. Mesmo assim, muitas pessoas andam diariamente de trem em Fortaleza.
Eu, nunca tinha nem sequer entrado na estação João Felipe. Para mim, nesta manhã de quinta-feira, tudo foi uma grande surpresa. Dois colegas, também estudantes de jornalismo, acompanharam-me neste viagem em direção a Caucaia.
Estávamos os três esperando pelo trem, quando minha colega, exultante de empolgação, falou:
Olha!O trem!Com fumaça e tudo!
Rimos muito. Pois, observamos que parecíamos turistas em nossa própria terra. Assim que o trem chegou a primeira impressão não foi das mais agradáveis. O trem é velho, as portas não fecham e as grades pequenas lembram uma gaiola de gente ou uma prisão.
Depois que a viagem começou, tivemos muitas surpresas. Primeiro encantou-me ver a cidade em outra perspectiva. Conheci partes da periferia que nunca tinha passado antes. Fiquei maravilhada com umas flores pequeninas que existem na vegetação entre uma periferia e outra. Mas, percebi que as verdadeiras flores da periferia são as pessoas.
Dentro do nosso vagão, conhecemos Ítalo, de 22 anos, que mora na vila Peri e vai todos os dias de trem para o seu trabalho em Maracanaú. Ítalo chamou-me logo a atenção, pois fez grande parte da viagem em pé, na porta do trem, olhando para fora, com um tal ar de liberdade no rosto, que deu vontade de estar em seu lugar. Conhecemos também Michele e Ermínia, mãe e filha, que moram no Conjunto Ceará. Quem também conversou conosco foi Sandra. Ela nos olhava sorrindo e me perguntou:
Vocês são turistas?
Não. Somos daqui mesmo.
Enquanto isso Ermínia olhava-me fixamente. Fui conversar com ela.
Ermínia, a senhora tá achando a gente doida?
Não. Vocês estão só se divertindo, nê?
Imagino que esse comentário tenha vindo porque eu e minha colega não parávamos de andar pelo vagão, bater fotos em todos os ângulos, conversar e rir. Enfim, Dona Ermínia tinha razão. Estávamos nos divertindo. Estávamos adorando!
O mais incrível da viagem não foi a descoberta de uma outra alternativa de transporte público em Fortaleza. Não! O essencial foi ver que quando saímos para fazer este tipo de trabalho, onde temos a oportunidade de conhecer outros mundos, outras pessoas, outras vidas e outros olhares, se estivermos atentos, podemos nos enriquecer profundamente. Cada contato com alguém é uma inesgotável fonte de amadurecimento. As pessoas daquele vagão foram as verdadeiras flores do meu caminho nesta manhã.